"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Foi mais ou menos assim...

Sentamos num bar à beira mar. Tudo parecia como antes, exceto pelo fato de estarmos decidindo nosso futuro juntos. Ou separados. Percebi tristeza na sua voz. Quis te abraçar antes de qualquer coisa. Mas me contive. Queria ouvir o que você tinha a dizer. Para o melhor ou para o pior.
No seu discurso pude perceber que você não estava procurando uma maneira de continuar, mas elencando razões pelas quais deveríamos parar por ali. Cada sentença, uma justificativa. Tive vontade de chorar como uma criança. Mas não chorei, afinal de contas precisava ser forte para te dissuadir daquela decisão.
Você estava irredutível.
Comecei a sentir a dor emocional se converter em física. Posso jurar que o coração dói de verdade quando a gente está sofrendo por amor. Senti a dor caminhando para dentro do meu peito enquanto tentava demonstrar como você estava errado.
Você estava impenetrável.
Então você falou sobre as minhas cartas. Li e reli todas elas, você disse. Contou que achava que estava me prejudicando, sendo uma coisa ruim para mim. Afirmou que infelizmente a gente se encontrou numa má hora e isso fez com que a gente nunca desse certo. Que você tinha medo e que o utilizou para construir uma barreira que eu não conseguiria romper.
Você estava decidido.
E aí? – perguntei.
E aí, que acho melhor a gente terminar. – você respondeu.
É agora ou nunca, pensei. Não vou conseguir convencer este homem a se encontrar comigo mais uma vez. E eu não quero que ele vá. Meu corpo se retesou de vontade de agarrar ele ali mesmo. Como eu o amo!
De um fôlego apenas, explodi: Meu Deus! Como você pode ser tão tolo? Como é que a vida te presenteia com uma pessoa que te completa de tantas maneiras e você simplesmente a deixa ir? Isso é desperdício de vida! De quantas maneiras precisarei te explicar? De quantos argumentos terei que lançar mão? Quantas lágrimas precisarão rolar pelo meu rosto?
Você estava acessível.
- Por que você veio com esse batom vermelho?