"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Ouço passos.


Ouço seus passos no corredor.

Poderia estar em meio a uma multidão que ainda seria capaz de reconhecer o som dos seus pés ao imprimirem ritmo ao chão.

Para os outros, apenas passos. Para os meus ouvidos, ressonância inconfundível.

Já começo a sentir os pelos do meu corpo se arrepiando. Minhas mãos suadas. Coração batendo a mil. Estou incontrolável.

Sua simples chegada perturba a minha mente e bagunça a minha vida!

A esta altura você já sabe do que eu estou falando não é? Isso mesmo: implicância!

Implicar é se permitir sentir aversão por alguém e deixar de exercer a tolerância. Tornar-se o que não é e demonstrar (mesmo que apenas para nós mesmos) a pior versão da personalidade. O objeto da nossa repulsa talvez nem saiba que desperta esse sentimento. Talvez nem faça nada para merecê-lo. E mesmo que seja a causa determinante do que nos afasta,  deixar-se dominar pela antipatia é a pior coisa a ser feita: significa perder. Significa se desviar. Se afastar do que é mais caro. E não ter paz, por fim.

Hoje ouvi de uma pessoa que admiro numa conversa totalmente casual: não permita que outra pessoa, independente de suas atitudes, mude a sua essência.

E sabe? É exatamente isso que a cisma faz: muda a sua natureza. Desestabiliza o seu cerne.

Então, meu caro, vou fazer um pacto comigo, com você, com Deus e o mundo: a partir desta data irei concentrar meus esforços para não mais implicar com você. Ainda que você resolva com esses seus pés barulhentos sapatear na minha cabeça, nas minhas idéias e nas minhas certezas.

Venha e vá em paz – pois cá entre nós – seu caminhar não tem mais poder.