"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Lado A. Lado B.

Se tem uma coisa que considero prejudicial, são os rótulos. Etiquetar pessoas, atrasa a vida.
Vejam bem: se eu sou uma socialista, PTralha, esquerdista e comedora de pão com mortadela, logo, não tenho capacidade de compreensão do que está realmente acontecendo no Brasil, também não consigo ler um projeto de governo e nem uma notícia até o fim, antes de me posicionar. Sou taxada de massa de manobra na melhor das hipóteses, e na pior, sou farinha do mesmo saco que essa corja de corruptos comunistas fãs de Fidel.
Na outra ponta, se eu sou capitalista, empresária, coxinha, tomadora de dindin de Chandon, e apoiadora da TV Golpista, não consigo me solidarizar com a classe trabalhadora e na verdade só quero ver mesmo é o povo se lascando para que eu fique cada dia mais rica. Dizem que sou a favor da volta da ditadura, que sou homofóbica, seguidora de Bolsonaro e outras sandices que não consigo me lembrar agora.
Minha gente, melhore!
Vamos tirar essa venda de arrogância que está travando os nossos olhos e perceber que existem sim, pessoas de esquerda que não são analfabetas e perfeitamente capazes de zuar um slide tosco, não para relativizar a seriedade da coisa, ou jogar uma guerra suja, mas pelo simples fato de que a gente é um povo bem humorado, que diante de tanto acontecimento, tanta podridão saindo de debaixo do tapete, ainda encontra espaço para achar graça de um ppt que parece que foi editado pelo meu filho de dez anos.
Vamos perder um pouco desse pedantismo também, de achar que tudo é golpe, que estão armando contra o povo, que todo projeto de lei é para beneficiar os mais abastados, que todo o discurso do PT deve ser aplaudido simplesmente por que acreditamos que não houve crime de responsabilidade. Tem muita gente errada, muita gente criminosa e não se pode simplesmente permanecer na ignorância (nem por vontade).
Em plena era do multi, do pluri, da disseminação da informação, acho um verdadeiro absurdo essa divisão de lado A, lado B. Isso é tão anos 80! Somos multifacetados. Me recuso a acreditar que num mundo globalizado, o  Brasil queira nadar contra a corrente. É de uma burrice tremenda.
Meu texto não vai ser tão compartilhado quanto o da economista engajadinha que sente náuseas de pessoas que não conseguem ler nem interpretar textos e querem dar sua opinião sobre as coisas e nem da socialista das cotas que pediu para ninguém assistir o discurso de Lula na mídia golpista que só quer distorcer a fala do ex-presidente. Mas talvez alcance você, que assim como eu, encontra ‘furos’ no discurso de ambos os lados.

Essa bipartição, além de problemática, é perigosa, e talvez nos leve a ruína.

E tenho dito.