"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Bilateral.

Um problema dos contratos é quando uma das partes decide alterar termos que não foram acordados anteriormente.

Claro que o café esfria, o mundo gira, as pessoas evoluem e mudam-se os desejos. Assim, nada mais justo do que querer rever cláusulas, correto?

Bom, não é bem assim, já que o contrato é um vínculo que necessita de vontade mútua.

Então, pode ser que a outra parte não fique muito feliz com a proposta por quê:

a)      Não está na mesma vibração evolutiva que você;
b)      Está satisfeita com todos os itens;
c)       Não está em condições de aceitar proposições;
d)      Simplesmente não aceita nenhuma alteração.

É necessário haver interesse de ambas as partes se pretendemos negociar, afinal de contas, é a bilateralidade que rege as relações.

 “Quando um não quer, dois não brigam”.

Não barganham. Não consentem. Não firmam parceria. Não resolvem.

E quer saber? Às vezes a gente precisa admitir que, a despeito de qualquer vaidade, se formos nós os proponentes das modificações, precisamos arcar com os desdobramentos da recusa do outro em estabelecer conversação acerca destas. Não podemos transformar em obrigatoriedade ao outro viver de acordo com o nossos preceitos. E quando não há sequer a manifestação de contraproposta, qualquer tipo de condição torna-se infrutífera.

É imprescindível ter convicção que o resultado final pode ser a quebra por tentativa de mudanças em decisões negociadas antes da assinatura.

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Sim, é bem complicado deixar de lado o egocentrismo e os melindres.

Sim, tenho vontade de espernear e enfiar goela abaixo do sujeito apenas o meu texto. (Na verdade, eu já esperneei)

E sim, estou falando do Contrato Bilateral de Amor. 

domingo, 15 de maio de 2016

Imprevisível.

Posso criar na minha mente dois ou três diálogos para inúmeras situações. Sou capaz de debater de forma tão eloquente numa discussão fantasiosa que qualquer interlocutor teria de se curvar à minha nobre sabedoria. Conheço uma nova pessoa e produzo idéias inteligentíssimas para impressioná-la. Tomo uma decisão que irá mudar minha vida por inteiro para descartá-la logo depois. Termino meus relacionamentos a cada quinze minutos e reato nos outros quinze.
Acho que tem a ver com o fato de escrever: imaginação à todo vapor! Viver inúmeras histórias dentro de uma. Aprender e reaprender com minhas idéias. Discutir e tornar a discutir os meus princípios. Viajar nas palavras e tornar ao meu lugar de origem mais sábia.

Parece bacana né?

Mas veja o problema que se forma: Ao imaginar diálogos fictícios, deixo de lado os reais e necessários. Se sonho com viagens hipotéticas fico aprisionada à cenários. De tanto criar caminhos, acabo sem encontrar a saída dos labirintos.

Permaneço em letargia.

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Bom, passaram-se alguns dias entre a minha divagação e hoje. Quero dizer que é uma sensação que tentei aplacar com ousadia. Qual o sentido da sujeição ao calar se você pode ser rei de si mesmo ao falar?
Assim, livrei-me de uma bagagem desnecessária, que promoveu na minha vida uma mudança tremenda: as noites mal dormidas, o desespero, a fixação doentia, o amor exagerado, tudo isto substituído pela certeza de uma boa decisão.
Você pode estar pensando agora: que bom não é mesmo? Às vezes é preciso tomar certas atitudes, resolver problemas antigos, dar passos em novas direções...
Mas meu coração, caro amigo - inquieto por natureza - descobriu um novo imbróglio: foi quando ele levou sua verdadeira voz para o mundo real que experimentou o silêncio.

Apenas silêncio.

Imagine o meu choque! Obviamente, entre as probabilidades que trespassaram a minha criativa mente, a falta de diálogo estava fora de cogitação.

Deu-se a ironia: O amor, que ao obedecer a Teoria da Imprevisibilidade, seduziu-me a voltar ao estágio das conversações simuladas.

Vai entender.