"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Gratidão

“- Você é um bocado estranha, menina. Está sempre alegre com tudo e com todos – observou a empregada, lembrando-se do
que acontecera no quartinho do sótão.
– Faz Parte do jogo, entende? – e a menina sorriu.
– Que jogo?
– O ‘jogo do contente’”
Li Pollyanna de Eleanor H. Porter muito nova e tentei a vida inteira seguir os seus preceitos e ver sempre o lado bom das coisas. A gratidão é algo tão difícil de exercitar não é mesmo? Somos gratos quando tudo vai bem, mas ao menor indício de problemas, passamos a murmurar. Isso, quando não nos desesperamos e passamos a maldizer a vida.
Sei que o que vou dizer agora é bem frase de biscoito chinês, mas, todo mundo tem problemas, o que diferencia uma pessoa da outra é exatamente a forma como lidamos com eles.
Eu não jogo o ‘jogo do contente’. Eu inventei meu próprio jogo. E no meu jogo, é proibido se sentir mal com algo que está fora no meu alcance resolver. Se não posso resolver, se o problema é maior do que eu, por qual razão devo me desesperar?
Não quer dizer que eu não fique triste ou preocupada. Não quer dizer que eu não tente reunir forças para sair da situação em que estou inserida. Quer dizer que mesmo diante da adversidade, procuro me posicionar de forma positiva, agradecendo a Deus até mesmo pelas atribulações, pois sem o sopro da vida, não haveria obstáculos a superar, não é verdade?
Quem me conhece, quem conhece a minha família sabe que todos somos assim. Não nos permitimos abater. Não desmanchamos nosso sorriso. Não deixamos de andar de mãos dadas. E sempre, sempre rendemos graças a Deus por tudo o que Ele dá. E por tudo o que Ele tira.
A maioria das vezes, os problemas são apenas quebra-cabeças difíceis de montar. Mas com uma solução possível. Então respire, relaxe... invente seu jogo e tenha a certeza que há uma saída.
Mas nunca, nunca deixe de ser grato a Deus pela vida, pois a felicidade não está na colocação da última peça, mas nas coisas que aprendemos ao montar as estratégias para resolver o enigma da existência.


“Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” 1 Tessalonicenses 5:18

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Quem é você pra derramar meu Mungunzá?

Durante quase uma década não tive um companheiro. Não andei de mãos dadas por aí, fazendo planos de um futuro em comum. Não fiz declarações de amor públicas nem dediquei musiquinhas em postagens fofas da internet. Fui a rainha das selfies (cujo nome fala por si só). Vi meu filho ir visitar o pai e se afastar pela janela por diversas noites onde me acompanhei de Deus, meu travesseiro e a Netflix (não necessariamente nessa ordem). Durante quase uma década eu esqueci que eu era uma princesa e fui ser rei na mais alta torre do meu próprio (e solitário) castelo.

E lá do alto, admirando o meu reinado, nunca murmurei, nunca desejei mal, nunca cobicei o que não era meu. Fui a aniversários, batizados, noivados e casamentos (inclusive da minha antiga família) e em cada uma dessas ocasiões, ao invés de me queixar, renovava minhas esperanças em um futuro melhor, nunca desacreditando do amor.

Fiz essa reflexão para que você possa compreender por qual razão ultimamente, minhas sinapses nervosas entram em colapso ao perceber a maldade alheia: há pessoas que realmente se incomodam com a nossa felicidade. E isso é impressionantemente triste!

Caríssimo leitor, curioso ou desejoso de mal, deixe-me parafrasear o poeta: “Quem é você pra derramar meu Mungunzá?”. Saiba você que: O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. (1 Samuel 2:6,7).

Então, se a minha felicidade (e a sua) durar a vida inteira (é assim que eu oro) e depois, a vida eterna (em nome do Senhor Jesus), é somente pela graça e misericórdia de Deus e nunca, jamais, pela sua ou minha interferência.

Acredito que a essa altura, faz sentido eu dizer que se durar apenas um dia, e eu tiver que voltar ao estágio inicial deste texto, vou continuar me comportando da mesma forma de antes, e você da sua. Eu sendo feliz assim mesmo. Pela Sua graça.

Em se tratando de amor, que as minhas próximas décadas sejam infinitamente melhores que a última. E as suas também. Pois a vida é isso: orar sem cessar, acreditar e desejar o bem. Não importa a quem.

Então, pelo amor de Deus, deixa de dar show!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Ouço passos.


Ouço seus passos no corredor.

Poderia estar em meio a uma multidão que ainda seria capaz de reconhecer o som dos seus pés ao imprimirem ritmo ao chão.

Para os outros, apenas passos. Para os meus ouvidos, ressonância inconfundível.

Já começo a sentir os pelos do meu corpo se arrepiando. Minhas mãos suadas. Coração batendo a mil. Estou incontrolável.

Sua simples chegada perturba a minha mente e bagunça a minha vida!

A esta altura você já sabe do que eu estou falando não é? Isso mesmo: implicância!

Implicar é se permitir sentir aversão por alguém e deixar de exercer a tolerância. Tornar-se o que não é e demonstrar (mesmo que apenas para nós mesmos) a pior versão da personalidade. O objeto da nossa repulsa talvez nem saiba que desperta esse sentimento. Talvez nem faça nada para merecê-lo. E mesmo que seja a causa determinante do que nos afasta,  deixar-se dominar pela antipatia é a pior coisa a ser feita: significa perder. Significa se desviar. Se afastar do que é mais caro. E não ter paz, por fim.

Hoje ouvi de uma pessoa que admiro numa conversa totalmente casual: não permita que outra pessoa, independente de suas atitudes, mude a sua essência.

E sabe? É exatamente isso que a cisma faz: muda a sua natureza. Desestabiliza o seu cerne.

Então, meu caro, vou fazer um pacto comigo, com você, com Deus e o mundo: a partir desta data irei concentrar meus esforços para não mais implicar com você. Ainda que você resolva com esses seus pés barulhentos sapatear na minha cabeça, nas minhas idéias e nas minhas certezas.

Venha e vá em paz – pois cá entre nós – seu caminhar não tem mais poder.