Ouço seus passos no corredor.
Poderia estar em meio a uma multidão que ainda seria capaz de
reconhecer o som dos seus pés ao imprimirem ritmo ao chão.
Para os outros, apenas passos. Para os meus ouvidos, ressonância
inconfundível.
Já começo a sentir os pelos do meu corpo se arrepiando. Minhas
mãos suadas. Coração batendo a mil. Estou incontrolável.
Sua simples chegada perturba a minha mente e bagunça a minha
vida!
A esta altura você já sabe do que eu estou falando não é?
Isso mesmo: implicância!
Implicar é se permitir sentir aversão por alguém e deixar de
exercer a tolerância. Tornar-se o que não é e demonstrar (mesmo que apenas para
nós mesmos) a pior versão da personalidade. O objeto da nossa repulsa talvez
nem saiba que desperta esse sentimento. Talvez nem faça nada para merecê-lo. E
mesmo que seja a causa determinante do que nos afasta, deixar-se dominar pela antipatia é a pior
coisa a ser feita: significa perder. Significa se desviar. Se afastar do que é
mais caro. E não ter paz, por fim.
Hoje ouvi de uma pessoa que admiro numa conversa totalmente
casual: não permita que outra pessoa, independente de suas atitudes, mude a sua
essência.
E sabe? É exatamente isso que a cisma faz: muda a sua natureza.
Desestabiliza o seu cerne.
Então, meu caro, vou fazer um pacto comigo, com você, com
Deus e o mundo: a partir desta data irei concentrar meus esforços para não mais
implicar com você. Ainda que você resolva com esses seus pés barulhentos
sapatear na minha cabeça, nas minhas idéias e nas minhas certezas.
Venha e vá em paz – pois cá entre nós – seu caminhar não tem
mais poder.