"O poeta é um fingidor/Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

domingo, 15 de maio de 2016

Imprevisível.

Posso criar na minha mente dois ou três diálogos para inúmeras situações. Sou capaz de debater de forma tão eloquente numa discussão fantasiosa que qualquer interlocutor teria de se curvar à minha nobre sabedoria. Conheço uma nova pessoa e produzo idéias inteligentíssimas para impressioná-la. Tomo uma decisão que irá mudar minha vida por inteiro para descartá-la logo depois. Termino meus relacionamentos a cada quinze minutos e reato nos outros quinze.
Acho que tem a ver com o fato de escrever: imaginação à todo vapor! Viver inúmeras histórias dentro de uma. Aprender e reaprender com minhas idéias. Discutir e tornar a discutir os meus princípios. Viajar nas palavras e tornar ao meu lugar de origem mais sábia.

Parece bacana né?

Mas veja o problema que se forma: Ao imaginar diálogos fictícios, deixo de lado os reais e necessários. Se sonho com viagens hipotéticas fico aprisionada à cenários. De tanto criar caminhos, acabo sem encontrar a saída dos labirintos.

Permaneço em letargia.

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Bom, passaram-se alguns dias entre a minha divagação e hoje. Quero dizer que é uma sensação que tentei aplacar com ousadia. Qual o sentido da sujeição ao calar se você pode ser rei de si mesmo ao falar?
Assim, livrei-me de uma bagagem desnecessária, que promoveu na minha vida uma mudança tremenda: as noites mal dormidas, o desespero, a fixação doentia, o amor exagerado, tudo isto substituído pela certeza de uma boa decisão.
Você pode estar pensando agora: que bom não é mesmo? Às vezes é preciso tomar certas atitudes, resolver problemas antigos, dar passos em novas direções...
Mas meu coração, caro amigo - inquieto por natureza - descobriu um novo imbróglio: foi quando ele levou sua verdadeira voz para o mundo real que experimentou o silêncio.

Apenas silêncio.

Imagine o meu choque! Obviamente, entre as probabilidades que trespassaram a minha criativa mente, a falta de diálogo estava fora de cogitação.

Deu-se a ironia: O amor, que ao obedecer a Teoria da Imprevisibilidade, seduziu-me a voltar ao estágio das conversações simuladas.

Vai entender.

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