Posso criar na minha mente dois
ou três diálogos para inúmeras situações. Sou capaz de debater de forma tão
eloquente numa discussão fantasiosa que qualquer interlocutor teria de se
curvar à minha nobre sabedoria. Conheço uma nova pessoa e produzo idéias
inteligentíssimas para impressioná-la. Tomo uma decisão que irá mudar minha
vida por inteiro para descartá-la logo depois. Termino meus relacionamentos a
cada quinze minutos e reato nos outros quinze.
Acho que tem a ver com o fato de
escrever: imaginação à todo vapor! Viver inúmeras histórias dentro de uma. Aprender e reaprender com minhas idéias. Discutir e tornar a discutir os
meus princípios. Viajar nas palavras e tornar ao meu lugar de origem mais
sábia.
Parece bacana né?
Mas veja o problema que se forma:
Ao imaginar diálogos fictícios, deixo de lado os reais e necessários. Se sonho
com viagens hipotéticas fico aprisionada à cenários. De tanto criar caminhos,
acabo sem encontrar a saída dos labirintos.
Permaneço em letargia.
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Bom, passaram-se alguns dias
entre a minha divagação e hoje. Quero dizer que é uma sensação que tentei aplacar com ousadia. Qual o sentido da sujeição ao calar se você pode ser rei
de si mesmo ao falar?
Assim, livrei-me de uma bagagem
desnecessária, que promoveu na minha vida uma mudança tremenda: as noites mal dormidas,
o desespero, a fixação doentia, o amor exagerado, tudo isto substituído pela certeza
de uma boa decisão.
Você pode estar pensando agora:
que bom não é mesmo? Às vezes é preciso tomar certas atitudes, resolver
problemas antigos, dar passos em novas direções...
Mas meu coração, caro amigo - inquieto
por natureza - descobriu um novo imbróglio: foi quando ele levou sua verdadeira
voz para o mundo real que experimentou o silêncio.
Apenas silêncio.
Imagine o meu choque! Obviamente, entre as probabilidades que trespassaram a minha criativa mente, a falta de diálogo estava fora de cogitação.
Deu-se a ironia: O amor, que ao obedecer a Teoria da Imprevisibilidade, seduziu-me a voltar ao estágio das conversações simuladas.
Vai entender.
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