Se tem uma coisa que considero
prejudicial, são os rótulos. Etiquetar pessoas, atrasa a vida.
Vejam bem: se eu sou uma socialista,
PTralha, esquerdista e comedora de pão com mortadela, logo, não tenho
capacidade de compreensão do que está realmente acontecendo no Brasil, também
não consigo ler um projeto de governo e nem uma notícia até o fim, antes de me
posicionar. Sou taxada de massa de manobra na melhor das hipóteses, e na pior,
sou farinha do mesmo saco que essa corja de corruptos comunistas fãs de Fidel.
Na outra ponta, se eu sou
capitalista, empresária, coxinha, tomadora de dindin de Chandon, e apoiadora da
TV Golpista, não consigo me solidarizar com a classe trabalhadora e na
verdade só quero ver mesmo é o povo se lascando para que eu fique cada dia mais
rica. Dizem que sou a favor da volta da ditadura, que sou homofóbica, seguidora
de Bolsonaro e outras sandices que não consigo me lembrar agora.
Minha gente, melhore!
Vamos tirar essa venda de
arrogância que está travando os nossos olhos e perceber que existem sim,
pessoas de esquerda que não são analfabetas e perfeitamente capazes de zuar um
slide tosco, não para relativizar a seriedade da coisa, ou jogar uma guerra
suja, mas pelo simples fato de que a gente é um povo bem humorado, que diante
de tanto acontecimento, tanta podridão saindo de debaixo do tapete, ainda encontra espaço para achar graça de um ppt que parece que foi editado pelo meu filho de
dez anos.
Vamos perder um pouco desse
pedantismo também, de achar que tudo é golpe, que estão armando contra o povo,
que todo projeto de lei é para beneficiar os mais abastados, que todo o
discurso do PT deve ser aplaudido simplesmente por que acreditamos que não houve
crime de responsabilidade. Tem muita gente errada, muita gente criminosa e não se
pode simplesmente permanecer na ignorância (nem por vontade).
Em plena era do multi, do pluri,
da disseminação da informação, acho um verdadeiro absurdo essa divisão de lado
A, lado B. Isso é tão anos 80! Somos multifacetados. Me recuso a acreditar que
num mundo globalizado, o Brasil queira
nadar contra a corrente. É de uma burrice tremenda.
Meu texto não vai ser tão
compartilhado quanto o da economista engajadinha que sente náuseas de pessoas
que não conseguem ler nem interpretar textos e querem dar sua opinião sobre as
coisas e nem da socialista das cotas que pediu para ninguém assistir o discurso
de Lula na mídia golpista que só quer distorcer a fala do ex-presidente. Mas
talvez alcance você, que assim como eu, encontra ‘furos’ no discurso de ambos os
lados.
Essa bipartição, além de
problemática, é perigosa, e talvez nos leve a ruína.
E tenho dito.